domingo, 21 de dezembro de 2008
A menina que roubava livros - Markus Zusak
sábado, 20 de dezembro de 2008
O Castelo - Franz Kafka
O senhor “K”, contratado pelo castelo para realizar serviços de agrimensura, ficou inseguro ao tentar se apresentar para receber as orientações necessárias à execução das atividades, e se deparou com uma situação inusitada: Klamm, seu possível chefe não permitiu o contato.
O agrimensor lutou desesperadamente, através do mensageiro Barrabás, marcar uma conversa com Klamm. Sem sucesso, resolveu afrontá-lo conquistando Frieda, funcionária da hospedaria, cujo prestígio na comunidade era amplo por ser amante de Klamm.
O agrimensor condicionou o seu matrimônio com Frieda ao fato de Klamm recebê-lo para uma conversa, já que ela havia sido sua amante. Esta exigência deixa transparecer dúvidas quanto ao seu real interesse em Frieda.
“K” encontrou-se com o prefeito, que habilmente desmereceu o serviço para o qual havia sido contratado, enfraquecendo propositadamente a sua posição. Nesta conversa o prefeito convenceu “K” a aceitar a tarefa de servente em uma escola da comunidade em substituição a para a qual ele havia sido contratado. Deixou transparecer que apesar de não haver necessidade do novo serviço estava autorizando por exercício de autoridade, inclusive, a sua permanência nas dependências da escola juntamente com Frieda, e os seus dois ajudantes.
A proposta aceita por “K” por falta de alternativa, sinalizou que Klamm não tinha o poder que diziam possuir. Há de se entender que o prefeito usou “K” para enviar a Klamm uma mensagem subjetiva sobre as forças contrárias existentes nas relações políticas administrativas.
Na busca incansável de explicação para o que estava acontecendo “K” se depara com Olga, irmã de Barrabás o mensageiro de Klamm, que depois de longa conversa põe em dúvida o poder de Klamm e de outros funcionários do castelo, referindo-se inclusive às mensagens ditas como enviadas por Klamm como possíveis de não serem oficiais.
Por fim, Pepi que substituiu Frieda nos serviços do balcão da Hospedaria dos Senhores após o rompimento do relacionamento com Klamm, ao sentir a possibilidade do retorno dela (Frieda) ao seu posto, tentou incutir na mente deste que a facilidade que ele teve para conquistá-la ocorreu devido o interesse de Frieda de usá-lo para chamar a atenção do ex-amante Klamm.
Pelo visto, Franz Kafka acreditava que o poder é capaz de desenvolver tentáculos eficazes de sustentar estruturas administrativas hierárquicas incoerentes, que funcionam para satisfazerem interesses esdrúxulos, cujo uso envolve o relacionamento humano, e este pode se tornar fator importante no divisor de águas.
O poder atrai todos os tipos de energia, e, o bom exercício passa por permear o linear da ética, os interesses públicos e sociais.
Informações sobre o autor - Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883. Filho de um abastado comerciante judeu cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formado em direito, ele fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico.
Referências bibliográficas
Kafka, Franz. 1883 -1924.
O castelo / Franz Kafka; tradução e posfácio Modesto Carone - São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
365p
ISBN 978-85-359-1174-9
1.Romance alemão - Escritores tchecos I. Carone, Modesto - II. Título
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
A cidade do sol - Khaled Hosseini
domingo, 14 de dezembro de 2008
A viagem do elefante - José Saramago
Referência bibliográfica
Saramago, José, 1922
A viagem do elefante: conto / José Saramago. - São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
256p.
ISBN 978-85-359-1341-5
1. Contos portugueses. I.Título.
sábado, 13 de dezembro de 2008
João de Gilu - Paulo Maciel
Ainda criança, o autor escolheu como ídolo o personagem que deu título ao livro e decidiu homenageá-lo. Não teria ocorrido o fato se ele não tivesse mantido os valores, e princípios de reconhecimento profissional que o diferenciou de muitos executivos.
Não bastasse dedicar um espaço razoável para contar a história do homem simples que cumprira suas tarefas montado em um jegue, o autor o colocou como título da sua obra. Ratificando, desta forma, o respeito que tinha pelo trabalho, independente da importância social, política e intelectual do ser humano.
João, filho de Gilu, arrastou-se feito um bicho na caatinga, fazendo sentinela, até se vingar de um cangaceiro do bando de Lampião, ao ter sido informado das agressões do bandido à sua irmã.
Ao identificar-se como o princípio de justiça, enaltecendo a vida de João de Gilu, o autor desnuda a sua própria história ao narrar fatos ocorridos na família, sem se preocupar com avaliações, preconceitos, críticas e observações que possam diminuir seus feitos.
Quando os propósitos são bons, e as ações não se desenvolvem na forma desejada, sempre existe a possibilidade de se redimir. Penso eu, que Paulo Maciel tinha esta convicção, desnudava-se ao lutar por princípios que acreditava judiciosos.
Informações sobre o autor – Paulo Maciel é filho de Juazeiro na Bahia. Pai de três filhos faleceu em 2008 vitima de câncer de próstata. Autor de mais três outros livros e colaborador de jornais de Salvador.
Sobradão - Lúcia Guedes Mello
O livro Sobradão narra a história da família Guedes Mello, com riqueza de detalhes que se aproxima de um mensário.
A antiga cidade de Salvador, na Bahia, serve de palco para as peripécias da autora, lutando contra preconceitos e barreiras impostas às mulheres, especialmente às mais jovens que eram impedidas de escolher as profissões, as companhias, e especialmente a quem oferecer o seu amor.
Ao escrever as suas memórias, Lúcia Guedes Mello brinda o leitor com o relato de eventos históricos importantes da vida cultural e política da cidade.
A autora que sempre valorizou a educação tem uma paixão especial pela literatura e pela música. Tornou-se cantora lírica, em um momento que a sociedade soteropolitana tinha restrições a artistas, mesmo os famosos.
Lúcia Guedes não perdeu nenhum detalhe na narrativa.
Fala da “telha-vã” existente nos sobrados; dos cães “Biribando, e Whisky”; dos apelidos colocados carinhosamente nos transeuntes “Bananeiras, Quiabo Duro, Pau de Fósforo, Tá Fundo ta Raso, e Araponga”; e da “Turma do Campo Formoso” dos veraneios na Ilha de Itaparica.
Relata como se livrou da galinha “Chimbica” sem que sua filha Alba percebesse, e a solução encontrada para o vestido de noiva de Eugênia, sua outra filha.
Descreve as experiências de cantar a ópera Cavalleria Rusticana, e de representar Mme. Batterfly.
Lúcia Guedes entremeia conceitos e valores pessoais, quando cita: “A morte é uma etapa importante da vida, mas não é o seu objetivo nem o ponto final”.
“Há uma lacuna entre o modo como percebemos as coisas e a realidade”.
A mulher forte e objetiva que lutou por seu espaço na sociedade moderna, conseguiu criar seus muitos filhos, vencendo barreiras, morando em sobrados da velha São Salvador.
Informações sobre o autor – Lúcia Guedes Mello nasceu em setembro de 1922, em Salvador, foi diplomada em farmácia pela primeira Faculdade de Medicina do Brasil, em 1943. Viveu sua vida profissional dedicada ao ensino. Cantora lírica foi fundadora do Grupo Experimental de Ópera da Bahia e da Sociedade de Cultura Artística da Bahia.
Muito longe de casa - Ishmael Beah
Saidu imaginou-se um “morto vivo” andando pelas matas e aldeias de Serra Leoa.
O relato de Ishmael Beah a respeito do sentimento do amigo Saidu sobre as perseguições políticas em Serra Leoa é digno de reflexão. Crianças e adolescentes fugiram, sem sucesso, de uma guerra que não inventaram, e terminaram em combate por falta de opções.
No combate, sem forças para carregarem armamentos e mantimentos terminaram se drogando a exemplo de soldados adultos.
Os que conseguiram ser resgatados por instituições preocupadas com as condições de vida dos combatentes mirins, ainda tiveram oportunidades de se recuperarem e constituírem novos projetos de vida, outros foram mortos em combate nas florestas e aldeias, sem saber por que estavam fugindo e ou lutando.
Informações sobre o autor - Ishmael Beah nasceu em Serra Leoa em 1980, mudou-se para os Estados Unidos em 1998 e atualmente vive em Nova York. É formado pelo Oberlim College, com bacharelado em ciências políticas.
O Ano de 1993 - José Saramago
As citações de Saramago escritas em 1975, referindo-se ao que poderia ocorrer no Ano de 1993, tangenciam o entendimento da realidade, e ao mesmo tempo a contestação da filosofia religiosa e política.
É bom lembrar que no ano anterior ao que o livro foi escrito ocorreu a “Revolução dos Cravos” responsável por derrubar a ditadura Salazar inspirada no fascismo. Certamente, este fato deve ter inspirado o escritor imaginar o que aconteceria após o conhecido dia “D”.
De tudo tem um pouco: comparação de ambiente a obra do pintor surrealista Salvador Dali; referências comparativas a citações bíblicas; alusões a animais movidos por energia desconhecida; habitantes pichados com números, a exemplo dos prisioneiros em campos de concentração.
Não há compromisso com estilos ou propostas, o que existe são coisas soltas, algumas coerentes outras desconexas, que deixa o leitor desavisado com o sentimento da carência cultural e filosófica. São provocações sem estilo objetivo e direto, contudo induz a reflexões rápidas, desencontradas e inconclusas, para um desafio cibernético de um mundo desconhecido para o seu tempo.
O exemplo da citação “Não é difícil chegar basta olhar o chão e seguir sempre pelos caminhos mais pisados (...)”, e o processo político previsto por Saramago para o Ano de 1993, que não promove justiça, mas o extermínio da população independente da importância social e inverte o poder com o passar do tempo, podem parecer extravagantes ou simplórias. Depende da ambição do pensamento.
Fiquei com a impressão que Saramago aproveitou a oportunidade dos movimentos políticos ocorridos em Portugal, à época, para estimular uma reflexão sobre o futuro incerto.
Informações sobre o autor - José Saramago nasceu em 1922 em Portugal. Filho de agricultores, foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido internacionalmente com o romance Memorial do Convento. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Vive entre Lisboa e a aldeia de Lanzarote, nas Canárias.