A narrativa do livro permite ao leitor embarcar em avaliações distintas com base no ângulo que mais lhe convier. Contudo, por mais que se escolha um foco, as questões éticas, políticas e sociais permeiam a história de forma hilária.
O ocidental tem o hábito de ao falar sobre a morte considerar-se fora do contexto. Saramago trata o assunto com naturalidade, às vezes cômica. Leva o leitor a avaliar as consequências de uma eventual greve daquela que a maioria dos mortais não a querem por perto.
A temática da escrita é focada do início ao fim do livro, e chega ao ponto do leitor tentar se inserir no dialogar com a morte. O desejo da inserção tem o objetivo de reabitá-la da pseudo maldade, e mantê-la em atividade mortífera oxigenando a logística criada pela sociedade moderna.
O leitor deseja também dialogar com a personagem principal do livro para se aconchegar, e se possível, tornar-se amigo e convencê-la a excluí-lo da lista. Conhecendo-a melhor, ele teria a oportunidade de entender o procedimento da escolha e interagir de forma adequada, em oposição a este.
O medo da inflexibilidade da morte é verdadeiro. Quando ela dá as caras e desiste, por uns tempos, muitos ensinamentos são percebidos, apesar da ausência de diálogo.
As famílias, os hospitais, o governo, as funerárias, os cemitérios, as seguradoras, e muitas estruturas que vivem da logística, criada para viabilizar conforto aos vivos, reclamam da trégua unilateral da morte.
A sociedade se queixa, discretamente para não parecer antiética, e aceita os préstimos da máfia para viabilizar o intento de substituir a morte naquele país imaginário que ninguém morreu durante muitos meses.
Saramago mostra, mais uma vez, que os princípios éticos, defendidos socialmente, são deixados de lado quando a crise abrange o contexto geral. Bate de frente nos filósofos e religiosos de meiatigela, sem poupar a personagem principal do livro: a morte.
É um livro fascinante, apesar do tema que traz a personagem que carrega a foice encarregada de ceifar a vida.
Informações sobre o autor - José Saramago nasceu em 1922 em Portugal. Filho de agricultores, foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido internacionalmente com o romance Memorial do Convento. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Vive entre Lisboa e a aldeia de Lanzarote, nas Canárias.
Referência bibliográfica
Saramago, José, 1922
As intermintências da morte: romance / José Saramago. - São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
206p.
ISBN 978-85-359-0725-4
1. Romance português. I.Título.
domingo, 10 de maio de 2009
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Tô doida pra ler esse livro. Parabéns pelo post, muito bom.
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