quinta-feira, 31 de março de 2011

Cartas Anônimas – Fernando Vita

A divertidíssima história de uma cidade, que de fictícia só tem o nome, contada por Fernando Vita, registra fatos ocorridos quando o autor, ainda adolescente, ouviu e acompanhou o desenrolar de boatos que serviram para ocupar os desocupados e irritar os que, de alguma forma, cometiam deslizes, deixavam escapar sentimentos amorosos ou preferências sexuais.
Muito pouco do que eu me recorde passou despercebido pelo autor. O texto escrito em linguagem direta, com citações comuns em mesas de bar de províncias a exemplo da que serviu de palco para desenrolar a narrativa, não agride os tímpanos do leitor devido à habilidade do autor em contar os fatos de forma hilária e desprovidos de ofensa.
Cada caso se desenvolve de maneira única e terminam se entrelaçando. As cartas anônimas apresentadas como simples fotografias se transformam, no decorrer do texto, em um engraçado filme.
O romance coloca a belíssima e desejada Boneca no centro de um contexto, fruto do imaginário do autor. Afinal, diz ele tratar-se de uma ficção...
Na cidade desprovida de heróis, citado por Vita, a bem da verdade existiu um, faça-se justiça, o pai de  Chebeu, um dos estafetas citados no texto. O emprego federal concedido a Chebeu nos Correios e Telégrafos se deu ao fato do seu pai ter participado na Segunda Guerra Mundial.
O juiz Efraim, o grão-mestre Clinésio, Nadinho da Jegra, tenente Ludovico, e Teófilo que tinha por profissão ser marido da professora, adornam a história de forma espirituosa. Esse último, ao ser apresentado às pessoas dizia: “– Sinta em suas partes os meus prazeres! Teófilo Amândio, seu criado, marido da professora Dina Gazinha, às suas ordens.” O autor, também, não deixou escapar a Madre Rosário, encarregada do convento que abrigava a jovem, bela e radiante Madre Maria Goretti,  respeitadas obreiras educacionais.

As cartas anônimas chamavam a atenção dos desocupados que amavam comentar sobre a vida alheia. Os conteúdos saíam dos papéis e circulavam de boca em boca acrescidos da imaginação e do azedume de quem os repicavam.

Há que perdoar os habitantes de Todavia (SAJ), afinal, nada se tinha a fazer à época. O gerador que iluminava a cidade era desligado às vinte horas e na calada das noites enluaradas os cantores, tocadores, bêbados, políticos, poetas de meia tigela, desocupados por falta de trabalho e opções de lazer se encontravam nos bancos de jardins, botecos e puteiros - iluminados por candeeiros Aladim - para comentarem sobre vidas de muitos que dormiam e de outros que perdiam o sono por terem seus nomes incluídos em muitas das Cartas Anônimas.

O livro, rico em humor, traz uma linguagem simples a exemplo dos moradores da antiga província. Sem dúvida, é uma leitura divertidíssima para não dizer imperdível! O risco é despertar, nos atuais moradores, a  antiga prática das Cartas Anônimas...

Informações sobre o autor –  Fernando Vita nasceu em 22 de dezembro de 1948, em Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia. Trabalhou no Jornal da Bahia como repórter, editor e crítico musical. Foi repórter freelance do Jornal do Brasil e das revistas Veja e Istoé/Senhor. Escreveu Tirem a doidinha da sala que vai começar a novela. Recebeu o Prêmio Braskem Cultura e Arte.

Referência bibliográfica
Vita, Fernando
Cartas Anônimas: uma hilariante história de intrigas, paixão e morte / Fernando Vita. – São Paulo. Geração Editorial, 2011.
181p.
ISBN 978-85-61501-60-0
1. Ficção brasileira - I. Título.

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