domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Monge e o Executivo – James C. Hunter


O livro conta a história de um executivo, aparentemente bem sucedido, que percebeu sinais de insatisfação nas pessoas com quem se relacionava.
Um movimento sindical, as constantes reclamações da esposa e as repetidas rebeldias dos filhos chamaram a sua atenção para a necessidade de mudança.
Por sugestão da esposa, aconselhou-se com um pastor e decidiu fazer parte de um grupo em treinamento.
Sob a coordenação de Len Hoffman, ex-executivo que decidiu se tornar frade, os participantes com experiências divergentes analisaram e discutiram paradigmas, crenças e valores, comumente empregados na administração de pessoas e nas relações pessoais.

Os debates orientaram valiosas lições:
A interpretação dos sinais pode se tronar importante indicação nas relações humanas.
A maneira como interagimos e decidimos ser, resulta na qualidade das relações pessoais e estas interferem na vida familiar, nas finanças e no trabalho.
O comportamento pode se apresentar com uma falsa roupagem e serve para sustentar as relações com o poder. Devido a isso, muitas vezes, o que parece ser não é.
A liderança só adquire autoridade quando é estabelecido o exercício do sacrifício do líder em favor dos liderados. A escolha de se colocar e se comportar a serviço do grupo, desconsiderando sentimentos que possam atrapalhar os resultados dos objetivos e as relações pessoais, são fundamentais para sustentar a autoridade. Com a autoridade adquirida, através do servir, é possível influenciar e impulsionar pessoas o que resume, basicamente, o papel do líder.
O caráter do indivíduo - diferente do poder conquistado ou concedido - define o comportamento, e, com ele, o exercício da autoridade. Por isso, o indivíduo pode exercer o poder sem ter autoridade. Sem autoridade não se impulsiona pessoas, porque, para mobilizar pessoas em vez do poder é preciso liderá-las.
A liderança precisa satisfazer às necessidades legítimas dos liderados, deslocando obstáculos que impeçam as conquistas dos seus objetivos.
O uso do poder remete a atitudes egoístas, podem agradar às hierarquias constituídas, contudo, não alcançam as finalidades para as quais foram criadas.
Na prática da liderança não se pode atuar como vítima. O sacrifício faz parte do contexto e é assim que o líder adquire autoridade. Quando isso não ocorre, resta a busca do poder para sustentar o comando.

No passado, era escolhido chefe o que sabia mandar e colocar barreiras. Na atualidade é quem sabe compreender e investir nas pessoas, estimulando-as a oferecer o melhor e flexibilizando as relações, sem comprometer os objetivos.
O mundo é visto como somos e não, verdadeiramente, como é.

O poder pode até funcionar por algum tempo, contudo, há tendência de envelhecer. Envelhecer no sentido de ser ultrapassado, superado, sair do contexto e de moda.
Enquanto o poder é superado, a autoridade, de um verdadeiro líder, consegue manter-se devido à utilidade de atos praticados, além da continuidade do serviço ao longo das nossas vidas. Isto fica ainda mais claro nas relações familiares. Os pais, na grande maioria, têm autoridade sobre os filhos, porque são úteis pelo resto da vida, mesmo quando os filhos não dependem mais financeiramente e da proteção, continuam à disposição e funcionam como referencias de caráter.

O líder, segundo James C. Hunter, deve ter autocontrole; ocupar-se em ouvir valorizando as opiniões; incentivar; ter autenticidade sem arrogância; dar importância às pessoas e satisfazer suas justas necessidades; perdoar sem ressentimentos; manter-se coerente com os compromissos; ser integro e livre de enganos; ir ao encontro das pessoas e fazer com que elas se movam através de relações saudáveis.

O livro é um despertar para as relações pessoais.
Engana-se o leitor que julgar não ter somado conceitos e ensinamentos, para o cotidiano.

Informações sobre o autor – James C. Hunter, é um experiente consultor de empresas de recursos humanos e treinamento. Mora nos Estados Unidos. Possui mais de vinte anos de experiência, e seu livro teve grande aceitação no mercado empresarial.

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A viagem do elefante - José Saramago

A história da vida do paquiderme Salomão, nascido em Goa na Índia e trazido para Lisboa, no século dezesseis, contada por José Saramago no livro "A viagem do elefante" é simplesmente hilária.

A curiosidade e o interesse dos portugueses foram diminuindo com o passar do tempo, até o elefante Salomão perder sua importância para o rei Dom João III, e para a rainha Catarina da Áustria, sua esposa.
O simpático Salomão, que tinha o indiano Subhro como cornaca, se viu sujo, desolado, esquecido pela corte portuguesa, e mal acomodado, próximo ao Mosteiro dos Jerónimos localizado perto das margens do rio Tejo.

Para dar uma utilidade a Salomão o rei aventou a possibilidade de presenteá-lo ao arquiduque austríaco Maximiliano II, casado com a filha do imperador Carlos V, da Espanha.
Consultado sobre o presente, o arquiduque confirmou a aceitação da oferta.
De imediato, para não haver retrocesso, o rei Dom João III ordenou que fosse preparada uma comitiva para transportar Salomão até a cidade de Valladolid, na Espanha, onde o arquiduque se encontrava hospedado. Para completar o presente de “grego”, junto à comitiva seguiu, também, o cornaca Subhro, responsável pelo tratamento de Salomão, com a intenção de não mais retornar a Lisboa.

O cornaca, que demonstrou muita inteligência e habilidade de relacionamento durante a viagem, terminou sendo admirado pelo comandante da comitiva por contar histórias sobre os deuses indianos Shiva casado com Parvati. A história dos deuses induziu o respeito da comitiva por Salomão já que Ganeixa, filho de Shiva, voltou a viver após ter sua cabeça substituída por uma de elefante.
Em contrapartida, o comandante tenta se sobressair, ao dizer que possui um exemplar do livro “Amadis de Gaula” do português Vasco de Lobeira, que versa sobre as cavalarias da península Ibérica. Vale lembrar que a versão original de “Amadis de Gaula” foi escrita por Rodriguez de Montalvo em 1508.

Apesar das dificuldades do percurso, a comitiva chegou ao Castelo Rodrigo, e aguardou as tropas austríacas para adentrar no território espanhol, para o encontro com o arquiduque Maximiliano. Enquanto isso, o comandante português, aproveitou para mandar de volta a Lisboa os trinta trabalhadores que acompanharam a comitiva, restando: a tropa, o tratador, e o elefante.
Após discussões entre o comandante português e o austríaco, para saber quem tinha o direito ou obrigação de levar Salomão até Maximiliano, resolveram negociar e seguiram juntos ao encontro do austríaco.

Enquanto isso, o cornaca observava o desenrolar das negociações, preocupado com o seu destino, a ser definido pelo arquiduque.
Ao se apresentar ao arquiduque, o cornaca foi orientado a colocar um gualdrapa sobre Salomão, e, surpreendido com a mudança do seu nome de Subhro para Fritz, assim como o do elefante de Salomão para Solimão.
Não adiantou questionar a decisão, os nomes foram mudados.

A tropa portuguesa retornava a Lisboa, e o cornaca seguiu junto com os austríacos, em direção a Viena. Acomodaram Solimão no mesmo barco que transportou, até a Itália, a tropa; os serviçais; o arquiduque; e sua mulher. Lá chegando, uma manobra do padre da Basílica de Santo Antônio de Pádua, convenceu o cornaca a levar Solimão até a porta da igreja. Na presença dos fiéis o elefante dobrou o joelho simulando um milagre.
Não ficou por menos, o arquiduque chamou Fritz para um esclarecimento, tirando-lhe com dificuldade, a confissão da farsa que ocorreu.

Sem alternativa para substituição do cornaca, Maximiliano prosseguiu a viagem sob neve, cujo percurso foi feito com dificuldade pelo animal desacostumado com o frio. Solimão comeu gelo por todos os lados. Sofreu o pão que o diabo amassou. Porém, aproveitou as duas oportunidades que lhe foram dadas para se redimir da simulação do milagre: a primeira quando a arquiduquesa caiu numa ribanceira e de pronto foi resgatada pelo elefante, e a segunda ao entrar em Viena enroscou a tromba numa criança de cinco anos devolvendo-a a seus pais no momento em que todos achavam que o acidente estava por acontecer.
Percebe-se que o treinamento dado por Fritz para simular um milagre na igreja, terminou por favorecê-lo, já que recebeu do arquiduque o reconhecimento pelos bons serviços prestados.

Bem, o fim da história do elefante Salomão ou Solimão está na página 255 do interessante livro de Saramago.
Os que não têm o hábito de ler o autor precisam de maior concentração e atenção para não se dissipar na leitura. O estilo de Saramago difere da forma tradicional, e no caso específico, a escrita é ainda mais descomprometida que as dos livros “Ensaio sobre a cegueira” e “As intermitências da morte”.
Saramago dá um show ao fazer citações e comparações com passagens bíblicas; ao enaltecer aspectos da inteligência de pessoas humildes; e ao registrar o afeto e preocupação do homem em relação aos animais.

Recentemente, em entrevista no Brasil, Saramago declarou que foi estimulado a escrever a história devido o fim que foi dado aos restos mortais do elefante Salomão.

Informações sobre o autor - José Saramago nasceu em 1922 em Portugal. Filho de agricultores, foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido internacionalmente com o romance Memorial do Convento. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Vive entre Lisboa e a aldeia de Lanzarote, nas Canárias.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Quando Nietzsche Chorou - Irvin D Yalom


O doutor Josef Breuer, médico, casado com Mathilde filha de uma rica família e o importante filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche, apaixonado pela atraente russa Lou Salomé, amargam duelos de titãs, cujos ensinamentos foram absorvidos por Freud, amigo, confidente e discípulo do médico.

Apesar de pouco interesse que tinha por Nietzsche, Salomé percebeu, nele, conflitos existenciais que poderiam levá-lo ao suicídio. Escreveu ao famoso médico Breuer para convencê-lo a tratar das enxaquecas do filósofo.
Breuer fez algumas exigências e terminou se encontrando com Salomé, em Veneza, para discutirem a estratégia da consulta, já que Nietzsche não poderia saber o que estava sendo arquitetado.
Terminou o conceituado médico sendo, também, atraído por Salomé.
Breuer, que não conhecia Nietzsche, decidiu ler seus desconhecidos livros para se inteirar da sua personalidade e ajudá-lo na curar. Os pensamentos do professor e filósofo exacerbaram a curiosidade do médico, facilitando a sua concordância com o plano de Salomé.
Convencido, Nietzsche aceitou se consultar com Breuer, contudo, devido à falta de recursos para financiar as despesas do tratamento resolveu interrompê-lo.
Breuer sem querer perder a oportunidade de conviver com o filósofo, lhe ofereceu, gratuitamente, um quarto na clinica pertencente à família de Mathilde, a sua esposa. Depois de rechaçar, inicialmente, a oferta, o filósofo terminou aceitando a gratuidade em troca de serviços a serem prestados a Breuer, já que o médico se dizia confuso com o seu relacionamento familiar. O duelo entre os dois é acirrado: o médico cuida de Nietzsche e o filósofo questiona Breuer sobre aspectos existenciais.
Apesar de casado com uma mulher bonita com a qual teve três interessantes filhos, Breuer sentia-se só e sem objetivos na vida. Sua jovem paciente Bertha Pappenheim, que sofria de problemas mentais, graves, o envolveu emocionalamente, a ponto de ser notado por sua esposa que resolveu pedir para que ele suspendesse o tratamento da paciente e transferisse os cuidados médicos para outro profissional.

Os possíveis diálogos entre os dois principais protagonistas, que nunca se encontraram na vida real, mostram o quanto teria sido interessante este combate.
O respeitado filósofo, egocêntrico, que não acreditava em Deus e imaginava ser ele próprio a sua melhor companhia, deixa o médico, estudioso de mentes, em situações conflitantes, ao ponto de se aconselhar com o seu discípulo Freud.
O leitor se imagina nos debates entre Breuer e Nietzsche e alterna a sua adesão às idéias do médico analista e às do filósofo ateu. Existem momentos de impasse, contudo, devido à abrangência do diálogo e a inteligência dos personagens surgem soluções e alternativas inimagináveis.
Em um dos capítulos, a trama é tão bem construída que o leitor é levado a acreditar que Breuer toma decisões importantes em relação à sua família, contudo não passa de um panorama, criado pelo autor, para abordar o provável início do estudo dos sonhos usado na psicanálise.
As idéias filosóficas deliberam que a felicidade só pode ser alcançada quando o ser humano determina os seus próprios valores, sem influências das sociedades e das religiões. Os valores são incorporados, através do constante estado de renascimento e crescimento que capacita o ser humano para as fontes do prazer, através do bem e do mal.

O desequilíbrio emocional de Nietzsche, provocado possivelmente por doenças de fundo psicossomáticas, o deixava acamado por vários dias, fazendo ver a Breuer a possibilidade de restabelecer sua saúde. Para agravar o fato outros fatores relacionados a exemplo da dificuldade de visão, dores de cabeça, vômitos e acidez estomacal contribuíam para o seu desespero.
A obsessão pelo próprio corpo induziu ao filósofo concluir que o seu sofrimento advinha de uma punição. Tornou a sua aparência tímida e triste, de um homem solitário.
Nietzsche passa por fortes crises existenciais e Josef Breuer sofre por se sentir encarcerado na própria vida. Enquanto o primeiro poderia cometer suicídio, o segundo apresentava sentimentos de fraqueza, por ter abandonado o amor da jovem Bertha, sua ex-paciente.

Os dois personagens tentam resolver as suas posições sobre os processos psicanalíticos e filosóficos nas seções de autoconhecimento. Os rumos confusos da solidão, do temor, da agonia, do amor e do abandono terminam por engrandecer a obra, por serem debatidos por importantes personagens da vida real que dão vida à ficção.
O livro, que é uma história fantasiosa, trata do início da psicanálise. O embate entre a psicanálise e a filosofia rende um diálogo interessantíssimo e deixa o leitor com gosto de “quero mais”.

Informações sobre o autor – Irvin D. Yalom é um escritor americano, filho de imigrantes russos. Formou-se em psiquiatria na Universidade de Stanford. O seu primeiro romance foi “Quando Nietzsche Chorou”. Escreveu também “A Cura de Schopenhauer”, “Mentiras no divã” e “Os desafios da terapia”. ()