sábado, 31 de dezembro de 2011

A Marca Humana – Philip Milton Roth

Um decano da Faculdade de Athenas, nos Estados Unidos, depois de dedicar a sua vida ao ensino, é acusado de racismo por se referir a dois alunos, que nunca apareceram na classe, como spooks.
A história deste professor de setenta e dois anos teria sido diferente se os alunos citados não fossem negros.
Coleman Silk é pressionado, inclusive por outros professores, e resolve pedir desligamento da faculdade.
Após a morte da esposa, o decano pede ao seu vizinho Nathan Zuckerman, para escrever a sua história e este decide narrar os acontecimentos e suposições dos fatos.
Na verdade, o professor era filho de pais negros, apesar de possuir características fenotípicas de individuo branco. Ao ser discriminado por uma namorada branca, que o rechaçou após conhecer a sua família negra, Silk decide se passar por um judeu branco, sem antepassados e irmãos.
À sua esposa judia, Iris, segunda namorada banca, nunca foi revelada a sua verdadeira origem, tampouco aos seus quatro filhos que herdaram características parecidas às da mãe.
Após a morte da sua esposa, vitimada devido às injustiças feitas ao marido, Coleman Silk se aproxima de uma jovem faxineira esposa de um ex-combatente na guerra do Vietnã, que se diz analfabeta. Este novo relacionamento impõe a quebra de paradigmas morais e sociais, não aceitos por colegas e filhos do protagonista.
A intolerância social imposta ao decano devido ao novo relacionamento com a jovem faxineira, que lhe devolveu o prazer de viver, o afastou ainda mais do convívio com os filhos e ex-colegas, e, de presente, ganhou a oposição ferrenha de Les Ferley, ex-marido de Faunia Farley, sua amante.
Les Ferley, por sua vez, não consegue perdoar a ex-esposa pela morte dos filhos e tenta, a todo custo, esquecer-se dos fatos ocorridos nos combates no Vietnã. Persegue Coleman e Faunia e termina como suspeito da morte dos dois.
O escritor convidado a contar a história tende a compreender os motivos que levaram o protagonista a se passar por branco, porém, ao conhecer seu opositor Les Ferley, enquanto investigava o acidente que vitimou Coleman e Faunia, passa a entender os motivos para o sofrimento e revolta do ex-combatente.

A infeliz Delphine Roux, também professora da universidade, decide infernizar a vida de Coleman, ao que parece por desprezo do mesmo em relação aos seus sentimentos amorosos.

O texto, rico em conteúdo, agrega criticas contundentes ao governo americano quanto à decisão de gastar uma fortuna para combater o regime comunista vietnamita, submetendo soldados a situações vexatórias, enquanto dirigente político é denunciado por ter relações sexuais, em pleno expediente, com estagiária na Casa Branca. Não bastassem as divergências morais, a crítica impera sobre a demora da sociedade americana em reparar os erros referentes à discriminação racial.

Coleman e Les Ferley são colocados como personagens centrais de uma história, escrita por Philip Roth, de forma que o leitor possa incorporá-los em momentos diferenciados, sem, contudo, chegar a nenhuma conclusão prática, devido ao contexto social em que eles são atirados. Philip Roth escancara a Marca Humana como uma pecha a ser extirpada da sociedade moderna e do mundo que defende direitos igualitários sem se preocupar em abolir a prática imperialista e preconceituosa.

Ao findar o texto o leitor continua relendo, refletindo, remoendo, revendo, remetendo-se a fatos históricos de um mundo corrompido e individualista. Um mundo cujo discurso afinado impera contrapondo-se com a prática política avalizada por povos desinformados, subservientes e sem foco em ações que possam minorar o sofrimento causado pela discriminação racial, social e regional dos povos. 
 
Informações sobre o autor – Philip Milton Roth nasceu em 1933, Nova Jersey, Estados Unidos. Tem origem judia e é considerado um dos maiores escritores americanos da metade do século XX. Escreveu Complô contra a América, O Complexo de Portnoy, Teatro de Sabath, O avesso da vida, Professor de desejo, Diário de uma ilusão, Casei com uma comunista, Pastoral Americana, A Mara Humana, O Animal Moribundo, O homem comum, Fantasma sai de cena, Indignação, dentre outros. Muitas de suas obras tratam de aceitação e identidade dos judeus nos Estados Unidos e explora o desejo sexual e a autocompreensão.

Referências bibliográficas
Roth, Philip, 1933.
A marca humana / Phiplip Hoth ; tradução de Paulo Henrique Britto. - São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
454p
Título original: The Human Stain.
ISBN 978-85-359-0198-6
1.Romance norte-americano - I. Título

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Nariz - Nicolai Vassilievitch Gogol


A história fantasmagórica, escrita por Gogol, revela uma crítica ferrenha à sociedade de São Petersburgo, na Rússia.
O nariz do major Kovaliov é encontrado pelo barbeiro Ivan Iákovlevich, dentro de um pão, durante o seu café da manhã, que, de pronto, o reconhece. Decidido a se desvencilhar do achado, para não ser incomodado por agentes da autoridade, saiu à rua carregando o tal apêndice e terminou sendo surpreendido em todas as tentativas que fez para depositá-lo em algum lugar.
Enquanto isso, ao acordar, o major percebe que o seu importante nariz não se encontrava no rosto e decide recorrer a vários meios para reavê-lo, tempo em que tenta identificar o responsável pela façanha.
Diante da perplexidade que o episódio ensejou, a polícia se esquivou de iniciar um procedimento e a imprensa, por sua vez, decide não publicar um anuncio, encaminhado pelo major, acerca do detalhamento do nariz. 
Depois de flagrado o nariz em situações exorbitantes o major Kovaliov recorre a um médico para recolocá-lo no devido lugar e, para sua surpresa, é informado da impossibilidade.
No dia seguinte, ao acordar, o nariz fujão reaparece, são e salvo, no rosto da autoridade e Gogol, com esta história hilária e surreal, debocha e cobra, do seu jeito, o respeito da sociedade pela condição humana.

Informações sobre o autor – Nicolai Vassilievitch Gogol, nasceu na Ucrânia em 1809 e foi para São Petersburgo aos vinte anos. Considerado um dos mais importantes escritores russos, escreveu Almas Mortas, O Capote, O Inspetor Geral, O Retrato, O Diário de um Louco, dentre outros. Morreu em 21/02/1852.