quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

Por que José Saramago em seu livro Ensaio sobre a Cegueira deixou de fora a Mulher do Médico ao resolver cegar os habitantes de uma cidade fictícia?
Quis ele incorporar a personagem, e através dos seus olhos, ajudar o leitor a analisar as facetas do comportamento humano durante uma crise epidêmica, ou mostrar, desde o início do texto, que vale mais reparar do que simplesmente ver?

A história da chamada Cegueira Branca que se espalhou por uma cidade atemporal, registra as atitudes para a sobrevivência física, a dignidade, e a espiritualidade do homem, quando submetido a uma epidemia.

Quem ainda enxergava se comportava com autoridade para decidir o que fazer com os cegos. Logo, todos passaram a ficar na idêntica situação, exceto a Mulher do Médico, que se manteve, sem explicação médica, até o fim da história podendo ver.

O autor declarou ter sofrido para escrever o texto, e quis que o leitor também participasse da angústia ao lê-lo.
Sem dúvida, quem teve o prazer de ler o texto passa pela experiência do sofrimento maduro da reflexão sobre a humanidade. A depender do momento, coloca-se favorável ou contra comportamentos de sobrevivência, mascarados pela hipocrisia social.
Os limites entre a sobrevivência e barbaridade, e os entre o instinto do progresso e o da autodestruição, são ultrapassados a todo o momento.

Saramago acerta em cheio na ferida. Quem ler Ensaio sobre a Cegueira não será mais o mesmo. No mínimo, passa a reparar tudo o que ver na tentativa de se tornar mais preocupado com as mazelas da humanidade.

A sutileza entre o “olhar” e o “ver” permeia a visão física remetendo-a para, uma mais atenciosa, a de "reparar". Esta última poderá ser observada mesmo na cegueira.

A exclusão social, a relação com o poder, a crítica às autoridades, as alternativas para a sobrevivência, a experiência adquirida na velhice retratada no personagem do Velho da Venda Preta, podem ser identificadas no texto.
Porém, um fato relevante foi citado de forma sutil: O personagem Escritor, que mesmo sem “ver”, registrava no papel tudo o que “reparava”, acreditava que um dia alguém soubesse o ocorrido. Desta forma, conseguiria perpetuar a memória e ajudar na formação da consciência coletiva.

Saramago diz: Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, esta coisa é o que somos”.

Informações sobre o autor - José Saramago nasceu em 1922 em Portugal. Filho de agricultores foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido internacionalmente com o romance Memorial do Convento. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Vive entre Lisboa e a aldeia de Lanzarote, nas Canárias.

2 comentários:

  1. Eu gostei muitíssimo deste livro.
    Recomendo a todos!!!

    ResponderExcluir
  2. Bom,particularmente aqui e para todos eu digo que o livro é bom e como a resenha aqui acima diz e vi um pouco disso no texto do livro que mesmo numa situação de calamidade pública como uma cegueira universal onde aos poucos as pessoas vão todas se cegando as que se mantêm enxergando criam um tipo de vantagem em relação as cegas da qual se aproveitam como no caso do hospício para onde os primeiros cegos são enviados.No fim,eu acho que a mensagem do livro em sua totalidade e do próprio Saramago é testar até onde a solidariedade humana numa situação de completo caos pode sobreviver diante da competitividade por comida,abrigo,água,ajuda e da própria natureza humana.Um abraço para todos.

    ResponderExcluir