domingo, 18 de outubro de 2009

Do amor e outros demônios – Gabriel García Márquez

A marquesinha, filha de Bernarda Cabrera e do marques de Casalduero, nasceu de sete meses, em uma manhã chuvosa, com a aparência de uma rã desvanecida. Ao ouvir o anuncio da parteira que a menina não vingaria, Dominga de Adiviento prometeu a seus santos que se a graça de viver fosse concedida não se cortaria o seu cabelo até a noite do seu casamento.

Bernarda, mãe da marquesinha Sierva María de Todos los Ángeles, não gostava da filha por achar que ela tinha poderes sobrenaturais e a apelidou de María Mandinga. Certo dia, ao se deparar com uma boneca flutuando na tina, exigiu que a garota fosse viver no galpão, em companhia das suas escravas.
A convivência com elas lhe rendeu o aprendizado de línguas africanas, afastando-a, ainda mais, a convivência com os seus pais.

No dia que María completou doze anos, foi ao mercado em companhia de uma escrava, e se deparou com um cachorro raivoso. Retornaram à residência, porém o fato foi omitido da família.
Ao descobrir o ocorrido o marques Casalduero consultou o médico Abrenuncio e este atestou que a menina não havia contraído raiva, apesar de ter sido mordida pelo cão. O médico judeu não era do agrado do bispo Don Toríbio de Cárceres y Virtudes fato que levou a autoridade religiosa convocar o marques, pai de Servia María, para informá-lo que a sua filha havia incorporado o demônio e para salvá-la ele deveria confiar o seu destino aos cuidados da igreja.

Temeroso aos desígnios de DEUS o marques preparou María, com ainda seus cabelos longos e intocáveis, fruto da promessa feita quando do nascimento, e a levou ao convento, abandonando-a aos caprichos da abadesca Josefa Miranda e suas auxiliares.

No convento, a menina se encabritou e demonstrou quase tudo do que havia aprendido com as escravas no galpão.
Temida pelas freiras e noviças, María foi colocada em uma cela e isolada das demais moradoras do convento. Enquanto isso, o bispo Don Toríbio designou o padre Cayetano Alcino del Espíritu Santo Delaura y Escudero para exorcizá-la.

Percebendo que Sierva María não havia contraído raiva tampouco estava com o diabo no corpo, o padre tentou, sem sucesso, convencer o bispo para liberar a menina.
Afastado da tarefa de exorcismo pelo bispo após ter se declarado apaixonado por Sierva María, o padre Cayetano mantinha contato noturno com a menina e trocavam amabilidades na esperança de um dia poderem compartilhar uma vida feliz.

Após várias tentativas, sem sucesso, para libertar María do cárcere, o padre Cayetano passou a freqüentar a casa do médico Abrenuncio e teve acesso a livros proibidos pela igreja.
Pego de surpresa, no convento, em uma das oportunidades que visitou a jovem, o padre foi condenado pelo Santo Ofício a prestar serviços em um hospital para leprosos. Impotente e confuso ele percebeu muitos dos erros na igreja pela qual havia dedicado toda a sua vida.

Após ser submetida a novos castigos durante o exorcismo, dentre os quais a cabeça raspada com navalha, a jovem Sierva María morre e para surpresa de todos os seus cabelos continuaram crescendo.

O livro expõe a igreja na prática do exorcismo se contrapondo a parapsicologia, mostra o seu poder no controle político-social, chama a atenção para as dificuldades nas relações conjugais quando ocorrem interferências familiares, e, principalmente, a capacidade de sobrevivência do ser humano em ambientes hostis.
O sacrifício imposto à vida de uma garota que desde o seu nascimento até a sua morte foi submetida a situações esdrúxulas, serviu de lenda para questionamentos legítimos feitos por Gabriel Garcia Marques. Poucos são os autores que possuem a capacidade para, através de fábulas como esta, alçar temas ricos para reflexão humana, sem cair no vulgar.

Informações sobre o autor – O escritor colombiano, Gabriel José García Márquez, apelido Gabo, nasceu em 1928 na aldeia de Aracataca, na Colômbia. Cedo abandonou a casa dos pais e trabalhou em diferentes empregos. Fez seus estudos em Barranquilla e chegou a iniciar o curso de direito em Bogotá, época em que publicou seu primeiro conto. Exerceu o jornalismo em Cartagema, Barranquilla e no El Esplendor, de Bogotá. Foi correspondente das Nações Unidas em Nova York. Recebeu Prêmio Nobel de literatura por sua obra que entre muitos outros livros inclui “Cem anos de Solidão”.

Referência bibliográfica
García Márquez, Gabriel, 1928 -
Do amor e outros demônios / Gabriel García Márquez; tradução Moacir Werneck de Castro. 18ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2009.
221p.
Tradução de: Del amor y otros demonios
1. Romance colombiano. I. Castro, Moacir Wemeck de. II . Título.

2 comentários:

  1. José Fernandes Costa24 de agosto de 2014 às 01:11

    Tenho esse livro. Muito bom. - Aliás, tudo de Gabriel García Márquez é bom. - Excelente autor. - García Márquez merecia mais prêmios!! - "Cem anos de solidão" é a verdadeira consagração do autor. /.

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