segunda-feira, 3 de maio de 2010

Caim – José Saramago

Caim, a história de ficção escrita por Saramago, tem o propósito de instigar o leitor sobre um tema polêmico e de difícil conclusão.
O leitor deve considerar a capacidade narrativa e a criatividade do autor ao desenvolver uma história baseada no Velho Testamento, que coloca o primeiro criminoso da história divina como protagonista e questionador dos desígnios de Deus.
O filho primogênito de Adão e Eva, Caim, matou o irmão Abel por ciúme e tornou-se um andarilho a testemunhar acontecimentos, relatados como castigos do Criador.
Sodoma e Gomorra, Torre de Babel, Arca de Noé, e o testemunho de fé de Abraão ao levar o filho Isaac para o sacrifício, são alguns das indagações colocados por Saramago.
Destruir Sodoma e Gomorra sem poupar as crianças e os justos; impedir a construção da Torre de Babel sabendo que de nada adiantaria construí-la; e encomendar a Noé uma Arca para boiar no dilúvio e repovoar o mundo são histórias do Velho Testamento, narradas pelo autor de forma inusitada.

Não bastassem os questionamentos bíblicos, Saramago dá uma pincelada nas relações pessoais. Cita: “Por baixo das palavras que dizes percebo que há outras que calas.”
Cita, ainda: “Diz-se então que o asno é teimoso como um burro quando afinal do que se trata é de um problema de comunicação, como muitas vezes sucede entre os humanos.”

O autor resume parte dos questionamentos em um diálogo entre Caim e Lilith: “Ninguém vai acreditar em ti, Não penso dizer isto a mais ninguém, o teu mal é que não trazes contigo nenhuma prova, um objeto qualquer deste outro presente. Não foi um presente, mas vários, Dá-me um exemplo. Então caim contou a lilith o caso de um homem chamado abraão a quem o senhor ordenara que lhe sacrificasse o próprio filho, depois o de uma grande torre com a qual os homens queriam chegar ao céu e que o senhor com um sopro deitou abaixo, logo a de uma cidade em que os homens preferiam ir para a cama com outros homens e o castigo de fogo e enxofre que o senhor tinha feito cair sobre eles sem poupar as crianças, que ainda não sabiam o que iam querer no futuro, a seguir o ajuntamento de gente no pé de um monte a que chamavam sinai e a fabricação de um bezerro que adoraram e por isso morreram muitos, (...)”

Enfim, os leitores de Saramago já estão acostumados à forma da escrita, sem a importância dada à construção das frases, como é percebido no texto acima, porém, o que importa é a questão. Apesar de se saber que, em muitas ocasiões, temas banais se tornam importantes devido à forma como são apresentados, Saramago se destaca pelo assunto.

Compartilhar ou não com Saramago sobre a existência de Deus, não impede a leitura da obra. A fé é reservada e particular, sua intensidade muda de acordo a necessidade do indivíduo.
Temas polêmicos a exemplo da criação do universo e da existência humana devem perpassar por avaliação interior e individual, sem tentativas de persuasão a quem quer que seja. Neste sentido, o texto não impõe desvio de conduta, contudo, induz o leitor a refletir sobre a forma de comunicação usada pelas religiões.

Informações sobre o autor José Saramago nasceu em 1922 em Portugal. Filho de agricultores, foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido internacionalmente com o romance Memorial do Convento. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Vive entre Lisboa e a aldeia de Lanzarote, nas Canárias. 

Referência bibliográfica
Saramago, José
Caim: romance / José Saramago. - São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
172p.
ISBN 978-85-359-1539-6
1. Romance português. I.Título.

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