domingo, 25 de julho de 2010

O Rei da Noite – João Ubaldo Ribeiro

O livro de crônicas do baiano João Ubaldo Ribeiro aborda temas do cotidiano que interferem nas relações, no comportamento e na psique. Tudo é dito de forma hilária, contudo, o que nos parece muito divertido concentra relatos de atitudes e sentimentos que interferem no dia-a-dia das pessoas, e, certamente, marcaram a vida do autor.

Ele descreve sobre os equívocos cometidos por pessoas que não sabem se comportar em reuniões sociais; o sofrimento de fumantes dispostos a largarem o vício; os traumas de infância provocados pelas famílias; os conflitos psicológicos levados pelo conforto da ociosidade e a necessidade da atividade física; o padrão de beleza nacional em relação às mulheres de cinturas fina e bundas grande; a banalidade das cirurgias plásticas; as experiências no uso da alimentação macrobiótica; as minorias da sociedade; a evolução tecnológica, apreciada desde a infância, e a difícil adaptação no momento atual; a ignorância em relação à prevenção de doenças, especialmente a Aids; a exploração sexual por estrangeiros; as dificuldades de comunicação entre pais e filhos, quando o assunto é sexo; as surpresas em relação aos mitos; a mudança comportamental nos relacionamentos conjugais e o uso da família como suporte; o medo da família em relação à droga; a pressão feminina nas relações familiares; o retrato cultural em relação aos mentirosos, cujo termo regional ele se refere a colhudeiros; as relações de empregos, especialmente os temporários e  extravagantes;  o sofrimento dos escritores ao aguardarem as tiragem das primeiras edições dos livros; as campanhas para prevenção à saúde e seus interesses econômicos; e, além de outros temas, a preocupação da sociedade em relação à segurança pública e a sua incapacidade na gestão dos processos, através de ações individualizadas.

O livro é um deleite, o leitor se diverte do início ao fim do texto. Sua forma não inibe a percepção sobre os temas, ao contrário, ressalta e estimula o debate e remete a lembranças de fatos do cotidiano.

O título O Rei da Noite é, também, a crônica de abertura e se torna o convite, irrecusável, para a leitura das demais.

Informações sobre o autor – Baiano da Ilha de Itaparica começou a escrever cedo, aos vinte e um anos, publicou Sargento Getúlio, Viva o Povo Brasileiro, A casa dos budas ditosos, Diário do farol, entre outros. É membro da Academia Brasileira de Letras e recebeu o prêmio Camões, atribuído aos maiores escritores da língua portuguesa.

Referência bibliográfica
Ribeiro, João Ubaldo
O rei da noite / João Ubaldo Ribeiro. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
197p.
ISBN 978-85-7302-929-1
1. Crônica brasileira. I.Título.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Criação Imperfeita – Marcelo Gleiser

A descrição sobre a origem do Universo, feita pelo físico Marcelo Gleiser, conduz o leitor a acreditar que se a Natureza fosse perfeita não estaríamos aqui.
A maioria dos cientistas procura por uma explicação da origem do Universo baseada nas simetrias, contudo, Gleiser esclarece que se não fosse as assimetrias, provavelmente, a vida não existiria. Pode-se concluir que as mutações ocorridas na Natureza são responsáveis pela evolução da vida até chegar ao nível da consciência humana. A nossa existência se deve às imperfeições no processo de reprodução genética.

Sobre os humanos o autor esclarece que pouco importa se somos ou não os únicos seres conscientes no Cosmo, já que as distâncias no Universo impossibilitam qualquer tentativa de contato.

A procura por uma “Teoria Final”, perfeita, que esclareça a criação do Universo, pesquisada com obstinação pelos cientistas, provavelmente, nunca será elucidada.  Vivemos em um Universo imperfeito, bem diferente das nossas expectativas de simetria e beleza. Aliás, a assimetria, diferente do que muitos imaginam, em muitas situações, é quem traz a encanto.

Gleiser prepara os leitores menos familiarizados com as leis da física, esclarece as teorias e descobertas feitas pela ciência, nos leva a entender o processo da criação com o uso de uma linguagem clara e sem agressão às crenças religiosas. Consegue esvaziar nossa expectativa a respeito da necessidade de busca por um sentido do homem na Terra. Para ele somos obra do acaso e estamos aqui por um processo evolutivo.

Marcelo Gleiser diz que a nossa visão de mundo é determinada pelo que podemos ver e medir e que a Fé brota da nossa dificuldade de lidar com o imprevisto, o que foge ao nosso controle ou não somos capazes de compreender. Somos únicos e especiais, não porque fomos criados por Deus, ou por sermos resultado de uma intensionalidade cósmica, mas, porque estamos vivos e temos consciência da nossa existência.

O livro é contemporâneo e remete o leitor à reflexão de conceitos familiares e religiosos que oferecem conforto psicológico. Apesar de o tema ser complexo a linguagem é simples, direta e a forma estimula a leitura. Ao encerrar a última página, ninguém sai como entrou... 

Informações sobre o autor – Marcelo Gleiser é professor de Filosofia Natural e de Física e Astronomia no Dertmouth College, onde dirige um grupo de pesquisa em física teórica. É autor de “A dança do universo” e “O fim da terra e do céu”, ambos vencedores do Prêmio Jabuti.
 
Referência bibliográfica
Gleiser, Marelo, 1959
Criação imperfeita / Marcelo Gleiser. 3ª edição - Rio de Janeiro: Record, 2010.
366p.
ISBN 978-85-01-08997-7
1. Criação. 2. Religião. 3. Matéria – Constituição. 4. Deus. I. Título.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mãe e o sentido da vida – Irvin D. Yalom

O autor narra seis situações de psicoterapias voltadas para questões de pacientes com dificuldades de relacionamentos, medo da morte e sentimentos de perdas.
O texto entrelaça histórias e envolvimento do psiquiatra além das revelações autobiográficas a respeito das dificuldades, na infância, que interferiram na relação com a sua mãe.
As simbologias reveladas nos sonhos são usadas para indagações e busca de sentido dos sofrimentos na tentativa de encaminhar mudança comportamental que possam minimizar a angustia dos pacientes.

Ao escrever Quando Nietzsche chorou, Irvin criou um embate entre o doutor Josef Breuer e o filósofo Friedrich Nietzsche, agora, no texto em questão, o autor relata um embate contundente entre ele, o psiquiatra, e uma paciente, médica, que resolveu competir e interagir no tratamento de forma pouco comum, chegando a liderar grupos de debates de pessoas com câncer. Paula, a paciente, questiona o psiquiatra, e o acusa de traidor por não entender o seu afastamento.

Na primeira reunião com um dos grupos a paciente surpreendeu o psiquiatra com a leitura de uma parábola:  “ Um rabino teve uma conversa com o Senhor sobre o paraíso e o inferno. Vou mostrar-lhe o inferno, disse o Senhor, e levou o rabino para um aposento em que havia uma grande mesa redonda. As pessoas sentadas em volta dela estavam famintas e desesperadas. No centro da mesa havia uma enorme panela de cozido, com um cheiro tão delicioso que a boca do rabino se encheu de água. Cada pessoa em torno da mesa segurava uma colher com um cabo longuíssimo. Mas, apesar de as colheres alcançarem a panela, seus cabos eram mais compridos que os braços dos candidatos a comensais: assim, incapazes de levar o alimento à boca, nenhum deles conseguia comer. O rabino viu que seu sofrimento era realmente terrível.
“Agora, vou mostrar-lhe o paraíso”, disse o Senhor, e foram para outro aposento, exatamente igual ao primeiro. Lá estavam a mesma grande mesa redonda, a mesma panela de cozido. As pessoas, tal como antes, estavam munidas das mesmas colheres de cabo longuíssimo – mas lá, todas eram bem nutridas e cheinhas, riam e conversavam. O rabino não conseguiu entender. “è simples, mas exige uma certa habilidade”, disse o Senhor. “Nesta sala, como você vê, eles aprenderam a alimentar uns aos outros.”

O texto é recheado de informações técnicas, contudo pode ser compreendido pelo leitor pouco familiarizado com o estudo da psicanálise. A sua forma possibilita analise de quanto os sentimentos interferem na vida  quando os motivos não são identificados.

Informações sobre o autor – Irvin D. Yalom é um escritor americano, filho de imigrantes russos. Formou-se em psiquiatria na Universidade de Stanford. O seu primeiro romance foi “Quando Nietzsche Chorou”. Escreveu também “A Cura de Schopenhauer”, “Mentiras no divã”, “De Frente para o Sol” e “Os desafios da terapia”. 

Referência bibliográfica
Yalom, Irvin, 1931
Mãe e o sentido da vida: histórias de psicoterapia / Irvin D. Yalom; tradução de Lucia Ribeiro da Silva. -Rio de Janeiro: Agir, 2008.
246p.
Tradução de: Momma and the Meaning of Life
ISBN 978-85-220-0921-3
1. Psicoterapia – Estudo de casos – Ficção. I. Silva, Lucia Ribeiro da II.Título