quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Crocodilo – Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski

O livro foi escrito no contexto histórico da Rússia Czarista, sob o comando de Alexandre II, cujo governo antiliberal defendia privilégios da aristocracia.
O autor que viveu o regime e suas conseqüências escolheu em linguagem simbólica para satirizar a burocracia russa atribuindo crítica impiedosa à concepção do modelo capitalista.

Dostoiévski elege uma sofisticada galeria em São Petersburgo, um funcionário público, um imigrante alemão e seu crocodilo para simbolizar a aristocracia, a burocracia governamental, e o regime capitalista, sem se descuidar, com maestria, das críticas e opiniões do narrador, Siemión Siemiônitch, que se inclui na história intrometendo-se nos diálogos, registrando situações, valores, conceitos e interesses dos personagens que giram em torno do protagonista.
Em companhia da sua esposa e do narrador, em rápida passagem pela galeria onde o crocodilo estava sendo exposto à visitação, o funcionário público Ivan Matviéitch é engolido inteiro pelo réptil. Daí em diante os conflitos de interesse do próprio protagonista e dos que o cercam são contados na forma metafórica a exemplo do que ocorreu no livro Metamorfose escrito por Franz Kafka.
Ivan, na barriga do crocodilo, preocupa-se com as opiniões dos seus superiores, enquanto o seu experiente amigo, Timofiéi Siemiônitch, avalia a necessidade do seu sacrifício para estimular os investimentos estrangeiros e beneficiar a pátria.
O dono do animal, por sua vez, percebeu uma grande oportunidade de lucro, já que o animal, após engolir o  russo, havia triplicado o seu valor de mercado e aumentado, consideravelmente, o número de visitantes na galeria.
Enquanto isso, o protagonista percebeu uma oportunidade de se tronar famoso e exercer cargos importantes na estrutura governamental, tão logo saísse daquela situação. Ele diz: “(...) sou exposto perante todos e, ainda que escondido, estou em primeiro lugar. Passarei a instruir a multidão ociosa. Ensinando pela experiência, apresentarei com a minha pessoa um exemplo de grandeza e espírito conformado perante o destino! Serei, por assim dizer, uma cátedra da qual hei de instruir a humanidade. São preciosas mesmo as informações sobre o mostro por mim habitado. E, por isto, não só não maldigo o caso que me aconteceu, mas tenho até sólidas esperanças na mais brilhante das carreiras.”
O protagonista faz uma relação da possível retroalimentação entre  ele e o crocodilo para manter vivo o sistema capitalista. Ele diz: “Deste modo, alimentando o crocodilo com a minha pessoa, eu recebo dele também alimento; depreende-se, pois, que nos alimentamos mutuamente.” 
Ivan, na qualidade de funcionário público burocrata, avalia-se no sistema capitalista, aqui representado pelo crocodilo, e conclui sobre a dificuldade de ser aceito. Refere-se, no sentido figurado, à inexistencia de estômago no animal como intolerância do sitema a custos que oneram os processos produtivos: “Mas, considerando que, mesmo para um crocodilo, é difícil digerir uma pessoa como eu, ele deve sentir, nessa ocasião, certo peso no estômago – estômago que ele, diga-se de passagem, não tem -, e eis a razão por que, preocupado em não causar uma dor supérflua ao mostro, eu raramente me viro.”   

O texto histórico apresenta um relato político importante com ênfase nos anseios sociais voltados para mudanças estruturais, sem se descuidar da insegurança trazida pela mudança de paradigma.

Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski - Nasceu em Moscou, em 1821. Cursou engenharia e estreou na literatura em 1845. Foi condenado à morte em 1849, por envolvimento com política liberal. Minutos antes do fuzilamento, sua pena foi modificada por um período de exílio na Sibéria. Morreu em São Petersburgo, em 1881. É autor de Irmãos Karamazóv, Crime e castigo, O Jogador, Notas de Subsolo, O Eterno Marido, e Recordações da Casa dos Mortos. É considerado o mais importante romancista russo.

Referencias bibliográficas
Dostoiévski, Fiódor, 1821-1881
O crocodilo e Notas de Inverno sobre impressões de verão / Fiódor Dostoiévski; tradução de Boris Schnaiderman – São Paulo: Ed. 34, 2000.
168 p. (coleção LESTE)
ISBN 85-7326-186-2
Tradução de Crocodil / Zímnie Zamiétki o Létnikh Vpietchatlêniakh
1.Literatura russa. I. Schnaiderman, Boris. II. Título. III. Série.

domingo, 12 de setembro de 2010

Bipolar – Terri Cheney

A autora relatar fatos ocorridos no seu cotidiano e a dificuldade de viver com a alternância do estado de euforia e depressão. Mostra a dificuldade de esconder a perturbação psíquica para não prejudicá-la profissionalmente.
O seu estado de espírito definia a sua vida e o mundo real se tornou difícil de ser identificado. As conseqüências dos seus atos, quase sempre, não atendiam às boas intenções, apesar de alguns momentos de euforia lhe tenha favorecido profissionalmente e em outros proporcionaram desconforto e angustia.
O reconhecimento da situação psíquica era um fato real, contudo, a atitude para minimizar a crise se constituía numa barreira intransponível. O desejo para coisas extremas aparecia, sempre, amparado por uma farta energia e após os feitos vinha,  a reboque, a necessidade de restabelecê-la.
O sofrimento de esconder a situação começou a acabar quando, Cheney, decidiu revelar a amigos a sua condição psíquica e foi em busca do controle da sua verdade. Diz, ela: “Contar a verdade é uma dança como qualquer outra, com passos, ritmos e etiqueta. Eu tinha levado a vida inteira para aprender a mentir. E, agora, teria que dedicar um pouco mais de tempo para estudar a arte da revelação.”

O texto é uma contribuição importante para os leigos que desejam conhecer, superficialmente, a vida de uma pessoa bipolar, e, por certo, ajudará a identificar atitudes e comportamentos que levem ao entendimento, aceitação e quebra de preconceitos.

Informações sobre a autora – É advogada especializada em propriedade intelectual e contencioso de entretenimento. Depois de anos lutando secretamente com psicose maníaco depressiva, decidiu abandonar a profissão e se dedicar à causa das doenças mentais. Foi nomeada membro do conselho de consultores do Programa de Pesquisas sobre Desordens do Comportamento da Universidade da Califórnia, Los Angeles, e fundou um grupo comunitário de apoio no Instituto de Neuropsiquiatria da UCLA. Mora em Los Angeles, Califórnia.

Referências Bibliográficas
Cheney, Terri
Bipolar / Terri Cheney; tradução Júlio de Andrade Filho e Clene Salles. – São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.
Título original: Manic.
 ISBN 978-85-7635-284-6
1.    Cheney, Terri, 1959 – 2. Pacientes de transtorno bipolar – Biografia. 3. Transtorno bipolar. I. Título.