domingo, 28 de agosto de 2011

Ninguém escreve ao Coronel – Gabriel García Márquez

Em reconhecimento aos serviços prestados à nação, o governo decidiu compensar os veteranos de guerra com uma pensão vitalícia. Devido à falta de verba para contemplar todos os veteranos, de uma só vez, elaborou uma relação com os nomes a serem beneficiados.
O Coronel, protagonista do conto, residia em uma ilha com sua mulher e mantinha-se esperançoso, apesar de sua posição na lista ser a de número 1823. Ou seja, havia 1822 combatentes a serem atendidos antes dele. O governo não revelava quantas pensões já tinha sido concedida e este procedimento mantinha o Coronel esperançoso e convicto de que um dia seria comunicado da concessão. Todas as sextas-feiras a esperança era renovada, se dirigir ao cais do porto e aguardava a lancha que trazia o correio para a ilha, na expectativa de receber a carta com a notícia.
Com o passar do tempo e o tardar da notícia, sem dinheiro, o Coronel começou a vender os objetos que havia na casa, dentre eles uma máquina de costura, herdada do filho, alfaiate.
Restou ao Coronel um galo de briga, deixado pelo filho Agustin, assassinado pela polícia, e lhe foi oferecido 900 pesos pela ave, diante do bom desempenho no treino para a luta prevista para quarenta e cinco dias após. Vendê-lo e suprir as necessidades imediatas ou aguardar a luta para aventurar um bom dinheiro, com a possível vitória?

A história do Coronel que vivia ao lado de uma mulher asmática, triste pela morte do filho e esperançoso por uma notícia que tardava a chegar, narrada por Gabriel García Márquez, tem gosto sutil de humor inteligente sem perda do foco social.
O texto, escrito em linguagem direta, mostra o ser humano com suas fraquezas e esperanças, acreditando em promessas que lhes são convenientes, principalmente, quando estas se tornam a única forma de sobrevivência. Evidencia a história de um homem que, em prejuízo do sustento, decide manter-se reservado para não passar por constrangimentos, apesar da notória exposição social.

Informações sobre o autor – O escritor colombiano, Gabriel José García Márquez, apelido Gabo, nasceu em 1928 na aldeia de Aracataca, na Colômbia. Cedo abandonou a casa dos pais e trabalhou em diferentes empregos. Fez seus estudos em Barranquilla e chegou a iniciar o curso de direito em Bogotá, época em que publicou seu primeiro conto. Exerceu o jornalismo em Cartagema, Barranquilla e no El Esplendor, de Bogotá. Foi correspondente das Nações Unidas em Nova York. Recebeu Prêmio Nobel de literatura por sua obra que entre muitos outros livros inclui “Cem anos de Solidão”.

Referência bibliográfica
García Márquez, Gabriel, 1928 -
Ninguém escreve ao Coronel / Gabriel García Márquez; tradução Danubio Rodrigues; [Ilustração de Carybé] 24ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2011.
Tradução de: El coronel no tiene quién le escriba.
ISBN 978-85-01-01655-3
1. Conto colombiano. I. Rodrigues, Danubio.  II. Título.


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sábado, 13 de agosto de 2011

Laranja Mecânica – Anthony Burgess

O texto, escrito em 1962, conta a história de um adolescente que vive na cidade de Londres.   O autor cria uma sociedade futurista na qual a violência atinge proporções gigantescas, exaladas nas mais diversas formas, inclusive na prática de roubos, estupros, espancamentos e assassinatos.
A violência praticada sem uma causa perceptível foi enfrentada, pelo governo, de forma totalitária. 

Anthony Burgess utiliza uma linguagem curiosa, carregada de gírias nadsat, com palavras rimadas, exigindo do leitor o seu aprendizado para remetê-lo ao centro do contexto, para vivenciar a história. O insere como observador na gangue comandada pelo idiota Alex que tem a companhia dos não menos retardados Pete, Georgie e Tosko.

Na maioria, as vítimas da gangue são os idosos e intelectuais. A escolha pode ter sido proposital para consagrar frustrações relacionadas à intelectualidade socialista e a ausência de práticas familiares apropriadas ao bem-estar dos jovens.

A solução encontrada pelo governo para combater as ações de Alex, não se caracterizou como menos hostil. “O diretor olhou para mim com uma cara muito cansada e disse:- Acho que você não sabe quem era aquele hoje de manhã, sabe 6655321? – E, sem esperar que eu dissesse não, ele disse: - Ninguém menos que o Ministro do Interior, o novo Ministro do Interior que eles chamam de reformador. Bem, essas novas idéias ridículas finalmente chegaram e ordens são ordens, embora cá entre nós eu lhe diga que não aprovo.”

Ainda hoje, o texto se firma como atualíssimo no cenário londrino haja vista as demonstrações de insatisfação social dos jovens e adolescentes e a resposta do poder para a solução dos conflitos.
A diferença entre o texto e a atualidade ocorre na diversidade da escolha das ações para possível solução, contudo, o capitalismo se vale da força para amordaçar o discurso proveniente da segregação social e racial encobertado e distorcido pela imprensa, conveniente, em vez da prática democrática saudável e construtiva.
O autor, Anthony Burgess, joga, sem piedade, o leitor para conviver com o abestalhado Alex no intento de fazê-lo entender a deformidade de caráter provocada por mentes vazias e desocupadas, cuja sociedade intelectualizada e “madura” demonstra incapacidade para definir políticas não excludentes.

O texto, aparentemente descomprometido, traduz uma polêmica social que mesmo os países com economias sólidas e estruturadas não conseguem elaborar e implantar políticas alternativas voltadas para a inclusão social.
Alex diz: “- Eu, eu, eu. Eu? Onde é que eu entro nisso tudo? Será que eu sou apenas uma espécie de animal ou cão? – E isso fez com que eles começassem a govoretar (falar) ainda mais alto e lançar slovos (palavras) para mim. Então eu krikei (gritei) mais alto, ainda krikando (gritando): - Será que eu serei apenas uma laranja mecânica?

Informações sobre o autor –  Anthony Burgess nasceu em Manchester em 1917. Formou-se em Inglês pela Universidade de Manchester, serviu no Exército e, entre 1954 e 1966, trabalhou como professor junto ao Serviço Colonial britânico na Malásia. Foi neste período que começou sua carreira literária.  Ao retornar a Inglaterra, recebeu a notícia de que tinha um tumor no cérebro: os dois médicos lhe deram no máximo um ano de vida. Mudou-se para a cidade costeira de Hove, no sul da Inglaterra, com a intenção de escrever vários livros para que os direitos autorais pudessem ajudar no sustento de sua esposa depois de sua morte. Mas, o diagnóstico estava errado, e Burgess viveu até 76 anos.

Referência bibliográfica
Burgess, Anthony  – 1955
Laranja Mecânica / Anthony Burgess; tradução Fábio Fernandes.
-São Paulo: Aleph, 2004.
Título original: A clockwork orange.
199p.
ISBN 978-85-7657-003-5
1. Ficção inglesa - I. Título.


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